terça-feira, 25 de maio de 2010

Arquitetos internacionais falam sobre sustentabilidade


Os entrevistados foram: o arquiteto uruguaio Rafael Lorente, o brasileiro Eduardo Castro Mello e o espanhol Carlos Lamela.

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Lorente explicou que os projetos arquitetônicos precisam levar em conta a importância das culturas locais para obras que reverberam nos destinos turísticos, o que pode trazer até conceitos de sustentabilidade

Considerado um arquiteto-escultor, que gosta de emocionar, instigar, podendo denominar-se isto, até certo ponto, um radicalismo, Lorente falou à Revista Sustentabilidade sobre o desafio de ser criativo em meio tanto à escassez de recursos no mercado do Uruguai, quanto à responsabilidade em garantir o bem estar das gerações futuras.

RS:: Sua exposição demonstrou que possui um talento significativo na concepção de formas construtivas. Como o poder público influencia no resultado de seu trabalho, visto que as restrições orçamentárias em seu país são grandes, e qual seu nível de consciência em relação à implementação de soluções sustentáveis em suas obras?

RS:: Os projetos arquitetônicos precisam ser aprovados por comissões, que analisam com rigor as propostas contidas no memorial. Acontece que nem sempre eles (os projetos) são vistos com bons olhos. Na realidade em que vivemos, nada se desperdiça.

Nosso escritório elabora obras para clientes públicos, o que nos remete a uma estreita relação com a planilha de orçamentos. Precisamos ter uma responsabilidade muito grande com os números, ou simplesmente não ganhamos a obra. E nem sempre conseguimos adequar o conceito sustentável, já que isso demanda uma alocação maior de recursos.

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Eduardo Castro Mello, arquiteto responsável pelo projeto de remodelação do estádio Mané Garrincha, palco dos jogos a serem realizados em Brasília durante a Copa do Mundo de 2014, sugeriu a importância dos equipamentos esportivos no desenvolvimento das cidades. Mello exibiu com orgulho sua proposta de uma edificação com uma cobertura inusitada de formato circular, que lembra o olho humano, como se o mesmo estivesse sendo ininterruptamente observado pela legião de fãs do esporte.

RS: Os organizadores da Copa manifestaram um interesse grande em fazer da edição brasileira um marco em termos de arquitetura e respeito aos anseios de sustentabilidade, especialmente nos estádios novos. O sr. acha que atingiu o objetivo?

Mello: A pergunta é interessante em ambos os sentidos. O projeto do estádio original é de meu pai (arquiteto Ícaro de Castro), e esse já é um motivo pessoal suficientemente significativo para que eu chegasse a um resultado satisfatório. Ter a oportunidade de concretizar uma ideia que abrigará milhões de pessoas por ano, e será vista por bilhões de espectadores num evento dessa magnitude, já é um grande prêmio e uma grande responsabilidade também. Buscamos dar ao Mané Garrincha um caráter de palácio, como os existentes desenhados por Oscar Niemeyer, espalhados pela capital federal. Mas com a diferença de que fosse esse visitado pelo povo.

RS: E a responsabilidade com o meio ambiente?

Mello: Essa é a segunda parte da pergunta. O estádio foi todo planejado para que o usuário tenha um conforto difícil de se sentir nos espaços abertos em Brasília, cujo clima é extremamente seco. Planejamos as arquibancadas e a cobertura respeitando um nível de circulação eólica satisfatório. Prevemos também a captação de águas pluviais, a serem utilizadas na irrigação do campo e no fluxo aos vasos sanitários. Serão instalados, na cobertura, paineis fotovoltaicos, tornando o estádio autossuficiente na geração de energia para iluminação das arquibancadas.

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Lamela, responsável pela elaboração de vários projetos na Europa, é um dos grandes nomes da arquitetura esportiva mundial, desenvolvendo estádios de futebol de formas extremamente interessantes, alguns deles com propostas incomuns de anexação de edifícios de escritórios.

Dentre seus trabalhos, destaque para a ampliação do Estádio Santiago Bernabeu, do Real Madrid C. F., um exemplo de otimização de espaço exíguo.

Carlos Lamela passou a ser muito requisitado por governos de outras nações após execução do Terminal 4 do Aeroporto Barajas, em Madrid, uma obra imponente (como todo aeroporto), mas com uma linguagem fiel a sua contemporaneidade.

Somados estes projetos a outros comerciais, tais como o suntuoso contact center do Banco Santander, no México, a Revista Sustentabilidade quis saber qual a diferença de relacionamento entre os clientes público e privado, além de como isso influencia na concepção formal e na implementação de soluções racionais.

RS: Observa-se que o senhor possui uma variada e seleta carteira de clientes. Existe uma diferença grande entre o poder público e a iniciativa privada, no que tange às expectativas e resultados de seus projetos?

Carlos Lamela: Da minha relação de clientes, 80% representam empresas civis, e o restante são órgãos governamentais. Há uma significativa diferença entre eles, sim. Em alguns casos, um segue um determinado critério, que para o outro já se torna irrelevante.

RS: Como assim? Os processos construtivos são diferentes? Aproveitando o ensejo, as soluções sustentáveis são encaradas com a mesma consideração?

Lamela: O cliente do poder público encara os sistemas sustentáveis indispensáveis na abordagem do projeto, e isso afeta os processos construtivos, a especificação dos materiais. E eu considero isso um grande exemplo, que deveria inclusive ser melhor seguido pela iniciativa privada. Vejamos o exemplo dos estádios, que pertencem a clubes, hoje empresas privadas. Se pararmos para pensar, lá se pratica esporte, que significa saúde. Não seria lógico um ambiente que inspira uma atmosfera saudável dar o exemplo para se tornar o mundo igualmente saudável, utilizando-se de tecnologias baseadas em energias renováveis? Tem que se apostar mais nisso.

Fonte: http://www.rumosustentavel.com.br

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